Antônio Bigode: o que se sabe e o que falta esclarecer sobre sumiço em área paradisíaca de MS
19/07/2025
(Foto: Reprodução) Sumiço em área paradisíaca vira caso internacional após 4 anos sem pistas em MS
O desaparecimento de Antônio Martins Alves, conhecido como Antônio Bigode, completou quatro anos e segue sem resposta sobre o que pode ter acontecido com o trabalhador rural de 82 anos. Ele sumiu do sítio onde morava, localizado no Assentamento Canaã, em Bodoquena (MS), região paradisíaca com rios cristalinos.
A filha do idoso, Nilce Santana Alves, falou ao g1 sobre os anos de espera e as incertezas. Ela acredita que o pai pode ter sido “tirado” do lugar, onde vivia desde 1984.
O caso é acompanhado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA). A corte internacional cobra do Estado brasileiro uma solução em relação ao paradeiro de Antônio Bigode. Segundo apurado pelo g1, o governo brasileiro estuda a federalização das investigações, que poderão ficar sob responsabilidade da Polícia Federal.
✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 MS no WhatsApp
O que se sabe e o que falta esclarecer sobre o sumiço:
Como Antônio Bigode desapareceu?
Quanto tempo as buscas duraram?
O que pode ter levado ao sumiço do trabalhador rural?
Morte ou desaparecimento: o que a polícia considera sobre o caso?
Alguém ‘tirou’ a vítima do local?
Por que filha de desaparecido só soube do caso dois dias após sumiço?
Com quais pessoas ou grupos Antônio Bigode tinha conflitos?
Quem furtou e por que a arma de Antônio Bigode foi levada de sua casa?
Por que o caso pode ser federalizado?
Como Antônio Bigode desapareceu?
Antônio Martins Alves, de 82 anos, desapareceu em 14 de julho de 2021, após sair de casa para procurar gado, segundo relatos de vizinhos. A ausência do idoso só foi percebida dois dias depois, em 16 de julho. Preocupados, os vizinhos iniciaram por conta própria as buscas por ele.
Sem sucesso nas buscas, eles acionaram o Corpo de Bombeiros de Aquidauana no fim do mesmo dia. As buscas oficiais começaram no dia seguinte, 17 de julho, um sábado.
Quanto tempo as buscas duraram?
De acordo com relatório do Corpo de Bombeiros, as buscas por Antônio Bigode ocorreram entre os dias 17 e 22 de julho de 2021, na região onde ele desapareceu. As equipes tiveram apoio de dez brigadistas do Instituto Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade (ICMBio), policiais civis e militares de Bodoquena, moradores da região e dois cães farejadores.
Segundo o relatório, a área foi amplamente vasculhada. As equipes chegaram a percorrer fazendas próximas. Durante as buscas, os bombeiros encontraram vestígios, como restos de uma fogueira e marcas de facão, que poderiam ser de Antônio Bigode.
Além das buscas por terra, os bombeiros também mergulharam em um poço próximo ao local do desaparecimento, mas nada foi encontrado.
Antônio Bigode pode ter sido atacado por algum animal ou desaparecido por decisão própria?
A região da Serra da Bodoquena é conhecida pela morraria e presença de grutas e fendas que se formam no cenário cárstico da região. O lugar também abriga espécies animais consideradas silvestres, como o caso de onças-pintadas.
Bombeiros também mergulharam em um poço próximo à área de Antônio, mas não encontraram indícios de que ele possa ter se afogado no local chamado Poção Azul.
A hipótese de que o idoso possa ter sumido por iniciativa própria é analisada pela filha como algo que não seria possível, já que o pai, à época com 82 anos de idade, possuía problemas na coluna, que dificultavam a sua locomoção, e outros fatores como diabetes e hipertensão.
Segundo apurado pelo g1, ele dependia de vizinhos para ir até a cidade, que fica a cerca de 30 Km do Assentamento Canaã, já que não dirigia os veículos que possuía.
As autoridades consideram que Antônio Bigode morreu?
O g1 teve acesso a uma circular interna da Delegacia da Polícia Civil de Bodoquena que informa o encerramento do inquérito sobre o desaparecimento de Antônio Bigode. No documento, a delegacia justifica que não teve “êxito em encontrar o cadáver ou pistas que pudessem levar a essa localização”.
Em outro documento, um relatório enviado pelo governo brasileiro à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) informa que o Estado de Mato Grosso do Sul encaminhou um ofício relatando que, “apesar dos esforços da Polícia Civil, a causa da morte de Antônio Martins Alves permanece indeterminada”.
O uso dos termos “cadáver” e “causa da morte” nos documentos oficiais não deixa claro se a polícia identificou algum crime no desaparecimento de Antônio Bigode.
Alguém ‘tirou’ a vítima do local?
Nilce Santana, filha de Antônio Bigode, acredita que o pai tenha sido retirado do local. “Ele foi tirado de lá”. A interpretação da filha vai ao encontro da geografia do local do desaparecimento e até mesmo as características do idoso. Segundo Nilce, devido à idade avançada, o idoso tem baixa mobilidade.
Relatório do Corpo de Bombeiros indica também uma singularidade da área onde o trabalhador rural morava. O sítio está localizado no fim de uma estrada vicinal. Ou seja, o cenário do desaparecimento pode ser considerado uma rua sem saída.
Os documentos acessados pelo g1 indicam que a polícia não considerou movimentações de terceiros e veículos no local do desaparecimento.
Por que filha de desaparecido só soube do caso dois dias após sumiço?
Conforme relatório da corte internacional, Antônio Bigode foi visto por vizinhos pela última vez no dia 14 de julho de 2021, quando saiu de sua propriedade para buscar gado. No entanto, Nilce só foi informada do desaparecimento pelos próprios vizinhos no dia 16. O caso só chegou à polícia em 19 de julho.
Antônio tinha conflitos com pessoas ou grupos empresariais?
O relatório que embasa a Medida Cautelar concedida pela CIDH aponta que Antônio Bigode tinha “conflitos com pessoas e grupos interessados na construção de estradas, desmatamento, exploração do turismo ou outros esforços com impacto ambiental relevante”. Entretanto, não afirma que são essas pessoas. A polícia não levou em consideração os indicativos de conflito de terra apresentados pela corte internacional.
Quem furtou e por que a arma de Antônio Bigode foi levada de sua casa?
Em 9 de julho, cinco dias antes do desaparecimento de Antônio Bigode, um revólver calibre .38 foi furtado da casa onde ele morava.
Segundo boletim de ocorrência, a casa não tinha sinais de arrombamento e somente a arma, que estaria guardada, foi levada. No inquérito policial, diversas testemunhas foram ouvidas, incluindo um suspeito de ter cometido o furto.
Em depoimento, o suspeito disse não ter envolvimento com o crime. O furto não foi esclarecido e se tornou um ponto sem respostas no caso.
Por que o caso pode ser federalizado?
Em novembro de 2022, a polícia civil de Bodoquena encerrou o inquérito sobre o desaparecimento de Antônio Bigode e informou que “todas as investigações possíveis foram realizadas pelos delegados de Polícia que estavam lotados nesta unidade policial”.
No ano seguinte, em 2023, conforme consta em documento do Estado brasileiro enviado à CIDH, o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania disse que consultou a Procuradoria-Geral de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul sobre a possibilidade de reabertura das investigações e de adoção de medidas para levantar indícios sobre o paradeiro de Antônio Martins Alves.
A pasta também disse que consultou a Secretaria de Acesso à Justiça acerca da possibilidade de “deslocamento de competência”. Ou seja, o caso pode parar na Polícia Federal.
LEIA TAMBÉM
Sumiço de Antônio Bigode vira caso internacional após quatro anos sem pistas
Antônio Martins Alves desapareceu aos 82 anos, em 2021, em Bodoquena (MS).
Loraine França
Veja vídeos de Mato Grosso do Sul: